quarta-feira, 12 de maio de 2010

Nordeste na série A... VITÓRIA/BA



É inegável como a CBF aniquila os clubes do Norte e Nordeste, que possuem muita tradição e sobretudo uma torcida apaixonada. Pois bem, não é de hoje que a CBF privilegia os 12 clubes da preferência da entidade. Os 12 clubes entendam: os 4 do Rio e São Paulo, os 2 de Minhas e Rio Grande do Sul. E para concluir a CBF banca apenas a série A e a série B do Campeonato Brasileiro, enquanto mata as outras duas competições chamadas de série C e série D parecendo um torneio de bairro. A principal alegação!? FALTA DINHEIRO. Mas falta dinheiro para esses clubes pobres, mas para comprar um jatinho de 23 milhões de reais não falta dinheiro. Infelizmente os clubes da região Nordeste tem que se acostumar com esse processo devastador que a CBF propicia.
A federação inglesa possui nove divisões bancada pela entidade. Leia-se Inglaterra com população estimada de 49 milhões de habitantes, enquanto o Brasil possui 190 milhões de habitantes.
Devemos enaltecer VITÓRIA E CEARÁ, os dois clubes da região que estão nessa "elite", e o marketing esportivo ajuda tanto o Vitória como o Ceará a sobreviver no meio dos "leões". Para ver como esse marketing esportivo tem que ser mais agressivo, a seguir segue a entrevista de Ricardo Azevedo, diretor de marketing do Vitória, que explica como o marketing esportivo auxilia o clube na dura batalha na série A.

Universidade do Futebol - Ao assumir o cargo no Vitória, você comentou que o planejamento do marketing do clube se daria em duas frentes: uma institucional e outra mercadológica. E sua maior meta seria não só reforçar, mas reconstruir a imagem da agremiação. Que avaliação pode se fazer desse percurso?

Ricardo Azevedo - Ao nos tornarmos S.A., incorporamos uma linha branca no meio do nosso escudo. Dentro do aspecto mais institucional, nosso projeto de valorização passou não só por uma reformulação da própria marca – sensível, mas que ocorreu –, porque nós retornamos com o referencial histórico do clube.

Retornamos com o projeto de um novo manual de identidade, que na verdade foi a retomada da marca anterior. Acrescentamos o ano de fundação, que é 1899, abaixo do escudo do Vitória.

Essa foi a base do projeto desenvolvido para entrar tanto no nosso manual, quanto em nosso processo de licenciamento. Todos os produtos passaram a ter a marca nova, que era a antiga, só que com muito mais cuidado e zelo.

A preparação da marca e a administração dela foram os nossos maiores cuidados nesse período inicial.

Fora isso, começamos a praticar campanhas institucionais de publicidade, algo que ainda não havíamos feito. Por exemplo, a “Vitória 1899” e a “Paixão na Pele”. Está em curso um planejamento que foi feito lá atrás e está sendo executado.

Nesse sentido, minha avaliação é que o projeto tem tido um andamento muito bom e uma resposta muito interessante da parte de parceiros e da própria torcida, principalmente, no sentido de reconhecer e valorizar a marca do clube cada vez mais.

Universidade do Futebol - A sua relação com o Vitória se iniciou antes mesmo da atuação no departamento de marketing, com a participação da produção da revista oficial do clube. Fale um pouco sobre essa trajetória que transcende a esfera de torcedor.

Ricardo Azevedo - Realmente eu já fiz a revista do clube, há uns oito anos. Depois disso, saí de Salvador, fiquei cinco anos fora da cidade, e pessoas conhecidas minhas, nesse período, estavam na diretoria do Vitória.

Não havia ainda o cargo de diretor de marketing. Fui convidado, mas não pude assumir. Quando retornei à capital baiana, no fim de 2008, ainda existia a vaga e selamos o acordo.

Naquele mesmo ano lancei um livro sobre a história rubro-negra, o que me aproximou novamente das pessoas que trabalhavam no Vitória. Digamos que era um namoro antigo.

Universidade do Futebol - Como você citou a obra ("Eu sou um nome na história - A história do Esporte Clube Vitória. Livro I: Tradição. 1899 - 1939: dos primeiros títulos ao fim do amadorismo"), poderia explicar um pouco sobre esse projeto literário?

Ricardo Azevedo - O livro era para ser um só, mas a história, além de muito grande, tinha muitos desdobramentos, e descobri que havia a necessidade de dividir a obra em três partes. Surgiu a ideia de desenvolver a trilogia do Vitória, com o primeiro livro, nesse caso, falando sobre os primeiros 40 anos do clube; o segundo, sobre os 40 anos subsequentes; e no terceiro livro, a fase mais moderna da agremiação, apresentaríamos a fase restante.

O primeiro já foi publicado, o segundo está pronto, mas ainda não tem previsão de lançamento, por questões pessoais – é um trabalho sem “intenção comercial”, digamos, o que acaba se justificando. Mas espero que ele seja apresentado ao público ainda em 2010.

A obra é completamente desvinculada da diretoria do clube. Quando iniciei o projeto, inclusive, nem me encontrava como profissional do Vitória, e nesse segundo livro segui a mesma linha. É um produto jornalístico, um livro-reportagem, feito por um jornalista.

Universidade do Futebol - Desde que caiu para a Série C do Campeonato Brasileiro, o Vitória realizou um processo de saneamento de dívidas paulatino, até retornar à elite do futebol nacional. Em termos de gestão de futebol, o clube está bem sedimentado para se tornar um referencial?

Ricardo Azevedo - Eu acredito que os números falam por si, independentemente da minha análise política. No ano retrasado, o Vitória não foi deficitário – empatou em despesas e receitas -, e em 2009, por conta de um início de ano fora de programação, voltou a apresentar problemas financeiros.

Neste ano, sofremos uma série de reformas estruturais, diminuindo o investimento no departamento de futebol, valorizando ainda mais as categorias de base ao invés de realizar grandes contratações. Posso garantir que o Vitória é um clube bastante “pé no chão”. E nossa expectativa é fechar a temporada sem nenhum déficit de novo.

Até aqui o planejamento foi bem feito e tem sido muito bem executado. Acho que não tem como dar erro quando isso ocorre, e os resultados aparecem. Pelo fato de grande parte dos clubes brasileiros não assumirem esse tipo de postura, acabam colhendo muitos problemas.

O Vitória já é uma referência porque em 2010, por exemplo, pagou todos os salários do mês rigorosamente em dia, não só aos jogadores, mas a todos os funcionários. É um clube que tem a administração muito focada na eficiência. E confiamos que essa política dará muito resultado. Não em um, ou dois anos, mas muito em breve estaremos com uma estrutura invejável, disputando título brasileiro.

Universidade do Futebol - No último fim de semana, o Vitória conquistou mais um título Estadual – o quarto seguido. Já é refletido, em números, o crescimento da torcida rubro-negra, especialmente entre os mais jovens? Que tipo de ações o departamento de marketing vem realizando nesse sentido?

Ricardo Azevedo - Sim. Temos uma projeção aqui que indica: entre torcedores adultos, nosso adversário tem 60% e o Vitória, 40%. Mas abaixo de 10 anos, por exemplo, o Vitória já tem 70% do público cativo, algo facilmente detectável em escolas, festas infantis.

Fora a questão de torcer, os fãs que não são do Vitória apresentam a auto-estima muito para baixo, pois quem tem até 10 anos de idade e não é rubro-negro ainda não foi campeão aqui no Estado. Isso é uma experiência negativa e abala o torcedor enquanto apaixonado, já que se cresce sem essa referência de título.

A linha mestra do nosso projeto para esse ano foi exatamente atender o perfil jovem da torcida. Primeiro, estávamos tentando organizar a casa, para depois prosseguir em um terreno mais sedimentado.

Neste meu segundo ano à frente do clube, a partir do segundo semestre, pegando como mote o Dia das Crianças, vamos iniciar uma série de ações diretamente relacionadas a esse público. Criamos um site infantil, desenvolvemos também personagens para contar a história do Vitória, vamos lançar um livro em parceria com a Editora Globo e o estúdio do Ziraldo sobre a trajetória rubro-negra, além de um mascote mirim reestilizado.

Logo depois da Copa do Mundo, consolidaremos tudo isso, focando essa parcela da população em que o Vitória é dominante. Queremos dar longa vida à nossa marca, ao nosso produto, e obviamente tentar aproveitar essa maré positiva de títulos que conquistamos nas últimas duas décadas*.


Universidade do Futebol - No dia 13 de maio o Vitória comemora 111 anos. Para simbolizar a data, o clube lançou um selo especial, que será utilizado por toda a temporada. Como surgiu essa ideia e em que produtos licenciados o logo aparecerá?

Ricardo Azevedo - Isso faz parte do projeto de valorização da marca. Na verdade, foi uma ideia pessoal, e queríamos tornar especial para o Vitória cada temporada. Pois a tradição do clube, como centenário, o diferencia de todas as outras equipes do Brasil – pouquíssimos rivais têm essa condição.

Quando o Corinthians, que comemora o centenário agora, nasceu, o Vitória já praticava futebol, por exemplo. E essa tradição tem um valor muito grande: passa a ganhar força cada vez mais, se tornar mais valiosa, ainda mais quando se têm pouquíssimas pessoas que podem usufruir disso.

Essa contagem para nós é positiva e muito importante. Iremos marcar a temporada de 111 anos – não são apenas 11 anos. Esse selo valoriza esse número. E possivelmente teremos o símbolo referente aos 112 anos a partir de janeiro que vem.

Universidade do Futebol - O Vitória possui um memorial virtual, que traça boa parte da história do clube. A concretização do projeto em um espaço físico ocorrerá?

Ricardo Azevedo - Antes de chegar ao clube, eu havia fundado a Fundação Memorial do Vitória. Patrocinei um site, e essa foi minha grande bandeira quando recebi o convite para ser diretor, colocando como contrapartida à minha contratação a prioridade de construção de um memorial rubro-negro. Disse que cobraria o apoio da presidência e dos outros executivos, e isso tem sido cumprido.

Já investimos mais de R$ 150 mil na reforma dos troféus do clube, projeto que já está em fase quase final – em dois ou três meses deverá estar concluído. Também temos o projeto da área dentro do clube para a construção desse memorial, e estamos na etapa de aprovação do plano para construir efetivamente o espaço.

Tive conversas com o curador do Museu do Futebol do estádio do Pacaembu, além de ter visitado alguns outros empreendimentos fora do país, mas tentaremos fazer uma adequação às nossas possibilidades.

O museu do Vitória tem importância para o futebol brasileiro, em virtude da rica história do nosso clube, e nossa intenção é levar isso para o memorial. Com menos interatividade e tecnologia do que o Museu do Futebol – não temos e nem pretendemos ter os R$ 50 mi para alavancar um projeto como aquele –, mas iremos ser efetivos com criatividade, preservando nossa trajetória, atendendo a torcedores, curiosos, pesquisadores, historiadores.

Não é um projeto simples. Temos apenas uma previsão de concretização desse investimento. E tudo será feito com calma, dentro da nossa atual realidade.

Universidade do Futebol - De maneira geral, como é a tratada a questão das receitas dos clubes e a atuação da mídia no Brasil? Como o Vitória, especificamente, discute a questão dos royalties, direito de transmissão e exposição da marca?

Ricardo Azevedo - Acredito que o ponto principal nesse caso, visto que cada clube tem seu modelo de gestão específico, é a negociação das cotas de televisão e de marketing efetivamente pelas competições das quais a equipe participa.

Isso acabou sendo muito homogeneizado nos últimos tempos por conta da negociação única do Clube dos Treze com a televisão. A participação do Vitória tem sido muito pequena, do mesmo tamanho da dos outros clubes. O C13 faz a negociação, e apenas fazemos parte do mesmo.

Esse ano tentamos uma mudança na própria diretoria do grupo – o Vitória fez parte da chapa do Kléber Leite, que pelo menos nos abriu espaço –, e acompanhamos de perto o desenrolar político do futebol brasileiro, que com certeza sofrerá algumas mudanças com a Copa do Mundo de 2014.

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